A vida é feita de muitos caminhos e possibilidades, mas igualmente de dores e obstáculos. Atualmente, neste ciclo social difícil, são cada vez mais as barreiras, os problemas e as chatices, para além das dores esperadas em certas etapas da vida. Cada vez mais, as pessoas se fecham na sua redoma, porque os seus problemas e as suas necessidades são os seus/as suas e as dos Outros as dos Outros. Na sua maioria, os gestos interpessoais estão convertidos ao Egocentrismo.
Em vias de extinção parece-me estar aquilo que eu chamo de Egodescentrismo: a capacidade de, no meio dos próprios problemas, reconfortar, perguntar ao Outro como está, querer saber e dar ternura. Ser-se capaz de se descentralizar nos próprios momentos maus e ser bondoso com a vida dos outros, em palavras ou gestos, porque os outros decerto também têm as suas dores e imprevistos. No fundo, sermos Humanos e Humanistas, para além das necessidades do Eu.
Faltam gestos e palavras de generosidade interpessoal; falta vontade de relativizar as próprias fragilidades para se importar com as de quem está ao lado; falta deixar a própria vida ensarilhada para reconfortar outra; falta ser-se superior à centrifugação dos maus momentos e não esquecer o Humanismo. Enfim, falta talvez colocar como possibilidade que dar de si pode ser uma libertação das trincheiras dos próprios problemas.
Sofia Martinho
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