sexta-feira

O Duelo do Artista

"Como um fim de Outono é penetrante. Tão penetrante que chega a tornar-se doloroso, pois há nele certas emoções deliciosas cujo indefinido não exclui a intensidade, e não há ponta mais acerada que a do Infinito.
Que enorme delícia, a de mergulhar os olhos na imensidade do céu e do mar! Solidão, silêncio, incomparável castidade do azul! (...)
Entretanto esses pensamentos, que eles saiam de mim ou se desprendam das coisas, em breve se tornam intensos de mais. A força da volúpia cria um mal-estar e um sofrimento positivo. Os meus nervos demasiado tensos não dão mais que vibrações gritantes e dolorosas.
E agora a profundeza do céu consterna-me. A sua limpidez exaspera-me. A insensibilidade do mar, a imutabilidade do espectáculo revoltam-me... Será preciso sofrer eternamente, ou fugir eternamente do belo?
Natureza, feiticeira sem piedade, rival sempre vitoriosa, deixa-me! Cessa de provocar os meus desejos e o meu orgulho! O estudo da beleza é um duelo em que o artista grita de pavor antes de ser vencido."

De Charles Baudelaire

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